Tapuias

Homem tarairiú — pintura do século XVII do holandês Albert Eckhout retratando um indígena do então Brasil Holandês

Tapuia é um termo de origem tupi que foi utilizado durante o período inicial de colonização do Brasil para designar todos os indígenas que não falavam o tupi antigo. Ao desembarcarem na costa do atual Brasil, os portugueses encontraram grupos que falavam línguas pertencentes a dois grandes troncos linguísticos da América do Sul: o tupi e o macro-jê. Aqueles que habitavam o litoral do Brasil falavam línguas pertencentes ao tronco tupi, ao passo que os falantes de línguas macro-jê com os quais os portugueses travaram contato habitavam regiões do interior do Sudeste, Nordeste e do Sul do Brasil.[1] Como o centro da colonização brasileira se deu no litoral, os portugueses, após estabelecerem contato mais próximo com os índios tupis, adotaram a nomenclatura que esses indígenas deram àqueles a quem se opunham, ou seja, os índios macro-jê ou tapuias.

Etimologia

Aldeia dos Tapuias, por J. M. Rugendas

Há diversos entendimentos das origens do termo, mas, em geral, observa-se que seria de procedência tupi e que teria significado semelhante a "forasteiro", "bárbaro", "aquele que não fala nossa língua", "inimigo".

O termo "Tapuio" não é expressão designativa de uma etnia. É tão somente "Um vocábulo de origem tupi, corruptela de tapuy-ú – o gênio bárbaro come, onde vive o gentio. [...] É um dos termos de significação mais vária [diversificada] no Brasil. No Brasil pré-cabraliano, assim chamavam os tupis aos gentios inimigos, que, em geral, viviam no interior, na Tapuirama ou Tapuiretama – a região dos bárbaros ou dos tapuias".
Tapuia significa "bárbaro, inimigo". De taba – aldeia e puir – fugir: os fugidos da aldeia.

Histórico

indígena do povo tapuia, que atualmente vivem e diversas regiões do pais
Narrary tapuia, indígena do povo tapuia

Autores quinhentistas como Gabriel Soares de Sousa já utilizavam o termo "tapuia", contrastando os índios dessa estirpe com os tupi-guaranis (tupinambás). No entanto, muitos cronistas coloniais consideravam os diferentes grupos indígenas como parte de uma única e grande nação, resultando no engano de caracterizar grupos tupis como tapuias.[2] Sobre a origem dos aimorés, Soares Sousa escreveu:

Descendem estes aimorés de outros gentios a que chamam tapuias, dos quais, nos tempos de atrás, se ausentaram certos casais, e foram-se para umas serras mui ásperas, fugindo a um desbarate, em que os puseram seus contrários, onde residiram muitos anos sem verem outra gente; e os que destes descenderam, vieram a perder a linguagem e fizeram outra nova que se não entende de nenhuma outra nação do gentio de todo este Estado do Brasil.

Os tupi-guaranis marcavam presença no litoral, enquanto os tapuias predominavam no interior. Grupos tapuias incluem, por exemplo os botocudos e muitos do nordeste do Brasil, como os tarairus e os cariris.[3]

Segundo os neerlandeses

Dança dos Tarairiú, por Albert Eckhout
Os Tapuias formam um povo que habita no interior para o lado do ocidente, sobre os montes e em sua vizinhança, em lugares que são os limites os mais afastados das capitanias ora ocupadas pelos brancos, assim neerlandeses como portugueses. Dividem-se em várias nações. Alguns habitam transversalmente a Pernambuco: são os Cariris, cujo rei se chama Kerioukeiou. Uma outra nação reside um pouco mais longe: é a dos Caririwasys, e seu rei se chama Karupoto. Há uma terceira nação, cujos índios se chamam Careryjouws (Carijós?). Conhecemos particularmente a nação dos Tapuias chamados Tarairyou, Janduwy é o rei de uma parte dela, e Caracará da outra.

Ver também

Referências

  1. NAZÁRIO, MARIA DE LURDES (2016). «ATITUDES ETNOLINGUÍSTICAS DOPOVO TAPUIA» (PDF). Tese. Consultado em 27 de abril de 2019 
  2. ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. (2013). Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FGV 
  3. Dirceu Lindoso (2008). Lições de etnologia geral: introdução ao estudo de seus princípios : seguido de dois estudos de etnologia brasileira. [S.l.]: UFAL. 234 páginas. ISBN 9788571774261 

Bibliografia

  • FEMENICK, Tomislav R.. Tapuios e Outros Índios. Gazeta do Oeste, Mossoró 28 de janeiro de 2007; O Jornal de Hoje, Natal 29 de janeiro de 2007
  • MONTEIRO, John M.. Tupis, Tapuias e Historiadores. Estudos de História Indígena e do Indigenismo. Departamento de Antropologia, IFCH-Unicamp, Campinas 2001
  • OLIVEIRA, E. da S.; MORAIS, M. A de; MEDEIROS, E. D. de & MEDEIROS, M. de L. P. de. Tapuias. História do RN n@ WEB [On-line] (ufrn.br)
  • SILVA, Lorranne Gomes da, VASCONCELOS, Eduardo Henrique Barbosa de, 'Os Tapuia: Uma história de resistências e esperança', In:[Revista] Tarairiú, Ano III-Vol1 Número 04-Abr/Mai 2012, pag. 64-78. http://mhn.uepb.edu.br/revista_tarairiu/n4/art5.pdf
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