Danos ao patrimônio resultantes das invasões na Praça dos Três Poderes em 2023

Vídeo mostrando parte da destruição no Supremo Tribunal Federal

Danos ao patrimônio resultantes das ataques de 8 de janeiro em Brasília foram verificados nas sedes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, e foram generalizados. Uma série de espaços importantes dos três prédios invadidos foi extensamente depredada e saqueada, incluindo o Salão Nobre e o Plenário do STF, os salões Verde, Azul e Negro do Congresso, e o saguão, o Salão Nobre e o gabinete da Primeira Dama no Planalto. Muitas outras áreas, como corredores, salas e gabinetes, também foram vandalizadas, danificando grande quantidade de móveis, equipamentos e objetos diversos. Vários espaços foram completamente destruídos.[1][2][3][4][5] De acordo com um funcionário, os invasores destruíram hidrantes, numa tentativa de impedir o combate aos focos de incêndio que existiam em diversos pontos da invasão.[6]

Na invasão, muitas obras de arte e objetos históricos foram danificados ou destruídos, incluindo todo o acervo do Salão Nobre do STF,[7] um vaso da dinastia Shang, datado de cerca de 1500 antes de Cristo, A Bailarina, de Victor Brecheret, um raríssimo relógio feito por Balthazar Martinot no século XVIII,[8] a grande pintura As Mulatas, de Di Cavalcanti, e o vitral Araguaia, de Marianne Peretti no Congresso.[9][10] No Palácio do Planalto, praticamente todas as mais de cem obras de arte do acervo foram danificadas.[5] O curador dos palácios presidenciais, Rogério Carvalho, assinalou que o valor histórico do acervo destruído é incalculável, mas considerou que a maioria das peças poderá ser recuperada.[11]

Lista parcial de danos

Retrato de Renan Calheiros, da galeria de retratos oficiais de ex-presidentes do Senado, no Salão Nobre da casa

Dentre as obras e objetos furtados ou danificados, constam:

Acervos e coleções
  • Acervo do Salão Nobre do STF, com muitas peças do século XIX e início do século XX, incluindo mobiliário entalhado e dourado, lustres, espelhos de cristal com moldura de jacarandá entalhada, vasos de porcelana decorada e estatuetas de bronze;[12][7]
  • Coleção artística do Palácio do Planalto.[5]
  • Galeria de fotos dos presidentes da República, no Palácio do Planalto;[13]
  • Cinco pinturas dos ex-presidentes, de Urbano Villela, no Museu do Senado;[14]
  • Presentes de autoridades estrangeiras e celebridades foram saqueados.
Danos estruturais
Mobiliário e tapeçaria
Funcionário do Serviço de Conservação do Senado mostra a tapeçaria de Burle Marx com deformações, rasgos e manchas de urina
  • Cadeira da presidente do STF Rosa Weber, concebida pelo designer Jorge Zalszupin;[6]
  • Mesa-vitrine do designer Sérgio Rodrigues;
  • Mesa de trabalho que pertenceu ao ex-presidente Juscelino Kubitschek;[11]
  • Mesa de centro, mesa de trabalho e cadeira vindas do Palácio Monroe;[14]
  • Mesas, portas e cadeiras diversas, incluindo porta do armário de togas do STF;[16]
  • Tapeçaria de autoria do paisagista e arquiteto Roberto Burle Marx, exposta no Salão Negro do Congresso Nacional;
  • Tapete que pertenceu à Princesa Isabel;[17]
  • Tapete persa decoração do dispositivo de receptivo dos chefes de estado[14]
  • Tapetes e carpetes diversos inundados pelo sistema contra incêndios[18]
Objetos
  • Armas, munições e documentos do Gabinete de Segurança Institucional, que estavam no Palácio do Planalto;[19][20]
  • Diversos aparelhos eletrônicos, como televisões, impressoras, Iphones e Macbooks;[21][16]
  • Lente fotográfica da Imprensa Nacional avaliada em R$ 40 mil;[21]
  • Brasão da República que estava localizado no plenário do STF;[16]
  • Crucifixo do Supremo Tribunal Federal;[6]
  • Equipamentos eletrônicos, incluindo televisões, computadores e impressoras;[16]
  • Réplica do exemplar original da Constituição Federal de 1988;[22]
  • Bola de futebol autografada por Neymar, presente da Delegação de Jogadores do Santos Futebol Clube;[23]
  • Pérola e concha dourada, presente do ministro das Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani;[23]
  • Objeto decorativo em forma de ovo de avestruz, presente do deputado Ahmed Ibrahim El-Tahir, presidente da Assembleia Nacional do Sudão;[23]
  • Dois vasos de porcelana; um deles foi um presente do deputado Lászlo Kövér, presidente da Assembleia Nacional da Hungria, o outro vaso foi um presente do parlamentar Wang Zhaoguo, vice-presidente do Comitê Permanente da Assembleia Nacional Popular da China;[23]
  • Tinteiro de bronze da época do império.[14]
Obras de arte individuais
A Diretora-geral do Senado Federal, Ilana Trombka, se reune com restauradores para avaliar os estragos e planejar as prioridades
Equipe de técnicos inicia o trabalho de restauro da escultura Anjo de Alfredo Ceschiatti. Ao fundo, o painel Araguaia, de Marianne Peretti, também passa por reparos
  • A Justiça, escultura de autoria de Alfredo Ceschiatti, criada em 1961;[6]
  • Anjo, outra escultura de autoria de Alfredo Ceschiatti;
  • Araguaia, um vitral de Marianne Peretti produzido em 1977, que fica no salão verde da Câmara dos Deputados;[6]
  • As Mulatas, painel pintado em 1962 por Di Cavalcanti;[6]
  • Ato de assinatura do Projeto da 1ª Constituição, de Gustavo Hastoy[14]
  • Bailarina, escultura de Victor Brecheret;[24]
  • Bandeira do Brasil, pintura acrílica sobre MDF do artista Jorge Eduardo, de 1995[25]
  • Busto de Rui Barbosa, responsável pela criação do STF no modelo atual, em 1890[17]
  • Evolução, escultura de Haroldo Barroso
  • Galhos e Sombras, obra de Frans Krajcberg estimada em R$ 300 mil;[11]
  • Maria, Maria, escultura de Sônia Ebling
  • Ntma, obra de 2003;
  • O Flautista, de Bruno Giorgi, escultura em bronze encontrada completamente destruída. Está avaliada em R$ 250 mil;[11]
  • Painel Vermelho, de Athos Bulcão;
  • Painel de Athos Bulcão, outro painel do mesmo autor, este presente na Câmara dos Deputados
  • Pássaro, escultura de Marianne Peretti
  • Quadro de Guido Mondin[14]
  • Relógio de mesa dado a Dom João VI, um relógio de mesa em bronze dourado com partes escultóricas, dado de presente a Dom João VI pela corte francesa e exposto no Palácio do Planalto, obra projetada por André-Charles Boulle e construída por Balthazar Martinot, relojoeiro de Luís XIV, uma das duas únicas peças remanescentes deste artífice.[11][26]
  • Retrato de José Bonifácio, de autoria desconhecida;
  • Retrato de Marechal Rondon, obra de 1953 do pintor do W. L. Techmeier;
  • Sem título, muro escultórico produzido em 1976 pelo artista Athos Bulcão;
  • Vênus Apocalíptica, da artista argentina Marta Minujín;
  • A Justiça, obra de Alfredo Ceschiatti, que foi pichada durante a invasão
    A Justiça, obra de Alfredo Ceschiatti, que foi pichada durante a invasão
  • Escultura Pássaro de Marianne Peretti, com parte quebrada
    Escultura Pássaro de Marianne Peretti, com parte quebrada
  • Quadro e mobília danificados no Congresso Nacional
    Quadro e mobília danificados no Congresso Nacional
  • Cadeiras concebidas por Jorge Zalszupin que foram arrancadas do plenário do STF
    Cadeiras concebidas por Jorge Zalszupin que foram arrancadas do plenário do STF
  • Exemplar original da Constituição Federal de 1988, então em exibição no STF
    Exemplar original da Constituição Federal de 1988, então em exibição no STF
  • Equipamentos destruídos no Congresso
    Equipamentos destruídos no Congresso
  • Início das obras de recuperação estrutural do prédio do Congresso
    Início das obras de recuperação estrutural do prédio do Congresso

Restauro

A Bailarina, de Brecheret, volta a ser exposta depois de restaurada

O plano de restauro foi traçado pelo Serviço de Gestão de Acervo Museológico (Segam),[14] com execução, por determinação da Ministra da Cultura Margareth Menezes, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram),[27] e parceria da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).[28]

No dia 11 de janeiro, a Bailarina, de Victor Brecheret, voltou a ser exibida na Câmara dos Deputados.[29]

Um ano após o início dos trabalhos, os danos custaram R$ 21,1 milhões ao governo. O maior prejuizo foi ao STF, estimado em R$ 12 milhões. Até o dia 6 de janeiro de 2024, 116 itens do STF e 21 obras no Senado e 80% do acervo do Congresso foram restauradas. 53 peças, ou quase um quarto do total, não conseguiram ser reparadas por completo e algumas ainda aguardam o processo para os trabalhos serem iniciado.[30]

Ver também

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Referências

  1. "Grupo de vândalos deixa rastro de destruição, com cadeiras arrancadas e pichações". UOL, 09/01/2023
  2. Andrade, Ranyelle et al. "Bolsonaristas deixam rastro de destruição no STF: veja antes e depois". Metrópoles, 08/01/2023
  3. Lago, Rudolfo & Matos, Caio. "Veja as imagens dos palácios de Brasília depredados por golpistas". Congresso em Foco, 08/01/2023
  4. "Veja imagens da depredação do prédio da Câmara dos Deputados". DM Anápolis, 09/01/2023
  5. a b c "Funcionários encontram Planalto depredado e acham rastro de sangue: 'chorei'". UOL, 09/01/21023
  6. a b c d e f g «Invasão aos Três Poderes danifica vitral no Congresso e mural de Di Cavalcanti; veja». Folha de S.Paulo. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023 
  7. a b "Antes e depois do salão nobre do STF - uma perda inestimável". STF em Foco, 09/01'/2023
  8. Froner, Mariana & Pretto, Nicholas. "A história de obras e objetos depredados nas invasões golpistas". Nexo Jornal, 12/01/2023
  9. «Pintura de Di Cavalcanti e Brasão da República: veja o que foi destruído em invasão no DF». InfoMoney. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 8 de janeiro de 2023 
  10. «Pintura de Di Cavalcanti e brasão da República: O que foi danificado com o terrorismo em Brasília». Aventuras na História. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 8 de janeiro de 2023 
  11. a b c d e "Vândalos destruíram acervo que representa a história da República e das artes brasileiras". Palácio do Planalto, 09/01/2023
  12. Robson Bonin (8 de janeiro de 2023). «Exemplar original da Constituição não foi roubado por golpistas, diz STF | Radar». VEJA. Consultado em 9 de janeiro de 2023 
  13. Dhiego (8 de janeiro de 2023). «Pintura de Di Cavalcanti e Brasão da República: veja o que foi destruído em invasão no DF». InfoMoney. Consultado em 9 de janeiro de 2023 
  14. a b c d e f g «Museu traça plano de restauração e reposição de peças atingidas na invasão». Senado Notícias. 10 de janeiro de 2023. Consultado em 12 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2023 
  15. Mariana Carneiro (9 de janeiro de 2023). «Escritórios do PT e do PSDB na Câmara ficaram destruídos». Estadão. Consultado em 9 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 11 de janeiro de 2023 
  16. a b c d «Veja lista de objetos depredados nas três sedes do poder, em Brasília». G1. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023 
  17. a b "Busto de Rui Barbosa e tapete da Princesa Isabel: terroristas destroem patrimônio histórico". Folha de Pernambuco, 08/01/2023
  18. «Tapete histórico e busto de Rui Barbosa foram vandalizados no STF». noticias.uol.com.br. Consultado em 10 de janeiro de 2023 
  19. «VÍDEO: Ministro da Secretaria de Comunicação diz que armas e munições do GSI foram roubadas». G1. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023 
  20. «Armas letais e documentos foram roubados do GSI durante ataque em Brasilia». Band. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023 
  21. a b Guilherme Amado e Natália Portinari (9 de janeiro de 2023). «Bolsonaristas roubaram iPhones, Macbooks, armas e lente de R$ 40 mil». Metrópoles. Consultado em 12 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2023 
  22. «STF diz que exemplar original da Constituição está intacto após invasão de bolsonaristas». G1. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023 
  23. a b c d «Pérola do Catar e bola autografada por Neymar foram levadas durante invasão da Câmara». Portal da Câmara dos Deputados. Agência Câmara de Notícias. 9 de janeiro de 2023. Consultado em 10 de janeiro de 2023 
  24. Rosário, Mariana (9 de janeiro de 2023). «'Foi uma cafajestada', diz filha de Brecheret sobre ataque contra escultura na Câmara dos Deputados». O Globo. Consultado em 10 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 9 de janeiro de 2023 
  25. «Invasão aos Três Poderes danifica vitral no Congresso e mural de Di Cavalcanti; veja». Folha de S.Paulo. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023 
  26. "Conheça o relógio de dom João 6º destruído por golpistas no Congresso". Yahoo, 09/01/2023
  27. «Iphan e Ibram vão recuperar obras de arte danificadas por terroristas». Folha de Pernambuco. 9 de janeiro de 2023. Consultado em 12 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2023 
  28. Guilherme Mazui (12 de janeiro de 2023). «Unesco vai ajudar governo brasileiro a recuperar patrimônio depredado por terroristas em Brasília». G1. Consultado em 12 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2023 
  29. «Após depredação e restauro, 'Bailarina', de Brecheret, volta à Câmara». Estado de Minas. 11 de janeiro de 2023. Consultado em 12 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2023 
  30. «Recuperação do acervo dos Três Poderes depredado por golpistas já custou R$ 21,1 milhões aos cofres públicos». Brasil de Fato. 6 de janeiro de 2024. Consultado em 7 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 7 de janeiro de 2024 
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